sábado, 14 de agosto de 2010

Caminhadas, continuação.

Acompahei o João até o banheiro, separei a roupa limpa que deveria vestir depois, perguntei se ele precisava de alguma coisa e aí ele se voltou furioso:"cadê minha caminhadeira"?
eu não entendi:"´como?"
"minha caminhadeira"
"descupa, bem, mas eu não estou entendendo"
"minha CAMINHADEIRA!!!!"
ele estava furioso.Eu na verdade não sabia o que ele queria.
"você não me entende? preciso ficar repetindo? EU disse CAMINHADEIRA"
Eu quis chorar, mas me segurei. Eu sabia que o craniofaringioma afetava uma área no cérebro que implicaria numa mudança de comportamento.
Olhei em volta do banheiro e perguntei:"você quer sua toalha?"
Ele me olhou surpreso:"é isso que estou procurando..."
E assim se sucederam muitas outras situações.
Ele me chamava de "mãe", não lembrava o nome dos irmãos, não sabia mais seu endereço, telefone, qual era seu carro, o andar do apartamento.
Colocava e tirava as coisas da geladeira, arrumava as prateleiras, guardava sabão em pó na geladeira e manteiga no armário da área de serviço.
Dormia e acordava várias vezes na mesma cadeira, horas e horas do dia.
Não queria barulho, não ligava a tv.
Mas perguntava se alguém teria ido visitá-lo.
Esse era outro drama.

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