quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tudo foi diferente

A recuperação do João foi muito diferente dessa vez. Ele não precisava de cuidados muitos diretos,como colocar o "papagaio", ajuda na alimentação, no banho,para se vestir.
Os cuidados eram outros.O João falava pouco e observava muito. Era muito estranho o seu olhar.Como ele ficava olhando sempre com "rabo de olho", nós achávamos que ele estava testando o campo visual.Parecia que ele queria saber o quanto que sua vista alcançava.Ele falava pouco e perguntava muitas vezes a mesma coisa. Eu não sabia se ele não estava me ouvindo ou me entendendo.
Eu cuidava de sua medicação,registrando numa tabela tudo que ele teria que tomar e o que já tinha tomado.Não confiava que ele pudesse fazer isso sozinho.
Várias vezes o vi tentando tomar sozinho os remédios.Ele tirava dois comprimidos de uma embalagem, deixava medicamento cair no chão, derrubava o copo com água.Eu implorava que ele deixasse essa tarefa para mim.Eu fazia com prazer e zelo. Escondi muitas vezes os comprimidos para que ele não se medicasse.
Ele falava palavras estranhas e ficava nervoso quando eu não o entendia.
Nossa filha vinha nos ver com nosso netinho, que ele adorava.
Ele ficava nervoso com a criança, ríspido, impaciente e se trancava no quarto.
Eu costumava comentar que dessa vez ele estava muito bem fisicamente mas a cabeça...

Nossa filha mais velha foi quem percebeu primeiro que nas intervenções que ele fazia nas nossas conversas, ele sempre começava a falar usando a última palavra que ele tinha escutado.Muito estranho.Não fazia sentido. Imagino o quanto ele devia estar sofrendo, tentando fazer contato conosco, com o mundo , e ninguém o entendia.

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